O Balanço do "Barlancê"


Estive ontem entre os Bons Amigos do Rádio – BAR. O 2º encontro colocou na roda o programa que só abria o microfone para quem tinha algo importante a dizer: o Balancê.
Na noite desta segunda, no restaurante Villa Tavola, além do mestre de cerimônias Irineu Toledo, Osmar Santos, Nelson “Tatá” Alexandre, Juarez Soares, Odayr Baptista e Zé Rodrix tiveram muito a dizer.
O pai da matéria e o parceiro de Escova fizeram jus àquela idéia de que uma imagem (às vezes) vale mais do que mil palavras. Com seus gestos e semblantes de emoção revelaram a importância que ambos têm para a manutenção de um rádio vivo e ao vivo.
Juarez Soares inverteu essa máxima e demonstrou que, no caso dele e de outros profissionais do meio, uma palavra é que vale mais do que mil imagens. Com o dom da oratória, fez com que os Bons Amigos do Rádio imaginassem o que foram aqueles anos de Balancê. Juarez foi porta-voz da primeira e mais brilhante fase do programa, que estreou em abril de 1980 na extinta Rádio Excelsior (atual CBN), do Sistema Globo de Rádio.
O comentarista esportivo fez com que voltássemos a um tempo em que o povo brasileiro clamava pela liberdade de imprensa total e irrestrita. Contexto ideal para o surgimento de uma atração em que, segundo o radialista, o esporte e o humor eram o pano de fundo para abrir o microfone àqueles que tinham o que falar. Para comprovar o que dizia, lembrou que, logo na estréia, a produtora Yara Peres conseguiu uma entrevista com o Prof. Florestan Fernandes, sociólogo e político perseguido pela ditadura militar brasileira. A ousadia fez com que o Balancê saísse do ar no dia seguinte, por ter desagradado à alta cúpula global.
Juarez ressaltou a luta que as diferentes equipes e apresentadores do programa, sempre sob o comando de Osmar Santos, tiveram para mostrar que a mistura de cultura, política, humor e esporte pode resultar em uma experiência sem limite para a criatividade e a liberdade.
Outro bom amigo do rádio presente ao encontro, Odayr Baptista explicou que o garotinho foi o responsável pela saída dele da equipe do Show de Rádio, na Jovem Pan (Osmar e Fausto Silva também faziam parte da equipe esportiva da emissora dos esportes). A idéia inicial era que Odayr levasse a sua Rádio Camanducaia como atração após as transmissões esportivas da Globo. Mas o projeto não pode ir adiante, porque a Pan continuou a transmitir a Rádio Camanducaia (apesar de ser uma atração registrada por Odayr). Enquanto o radialista exigia seus direitos na justiça, a Excelsior passou a contar com a voz do dono em Largo da Matriz. Mas a maior contribuição de Odayr esteve nas dezenas de personagens que ele incorporou ao lado dos reis do improviso Tatá e Escova. Para o ouvinte, a sensação era de que havia uma imensa equipe de humoristas no programa, tal a versatilidade dos três.
O Balanço do Barlancê, como foi chamado o evento por Irineu Toledo, contou ainda com o depoimento do publicitário e músico Zé Rodrix. O criador de jingles memoráveis, como “No Silêncio de um Chevrolet”, destacou que, no início dos anos 80, os artistas que não participassem do Balancê eram considerados de segunda classe. Talvez os motivos para isso fossem o respeito que o artista demonstrava por seu público ao tocar ao vivo em um programa de rádio em uma época em que imperava a fase vitrolão e nasciam as FMs; e o fato de o programa não aceitar jabá, prática que se tornava comum para que artistas ganhassem espaço nas rádios.
Zé Rodrix também deu voz a um pensamento interessante: as agências de publicidade que torciam o nariz ao ver uma tabela de rádio pela frente correm o risco de ver o modelo de negócio delas acabar, enquanto o rádio segue mais vivo do que nunca. Rodrix lembrou que o rádio está em todo canto e, na era da internet e da convergência, ele leva vantagem sobre qualquer outro meio de comunicação tradicional. É o único que transmite informação, cultura, entretenimento e – sobretudo – imaginanção enquanto fazemos inúmeras tarefas no computador. Afinal ver TV ou ler um jornal na tela do computador exige que paremos tudo para isso.
Os Bons Amigos do Rádio presentes na noite desta segunda, dia 7 de julho, ao Villa Tavola, tiveram o prazer em reviver e, em alguns casos, em conhecer uma das mais criativas experiências que o rádio já ofereceu aos ouvidos mais atentos.
Quero ressaltar ainda a participação de uma convidada da platéia. Ela relatou que, quando era criança e a mãe dela trabalhava na Folha de São Paulo, aproveitava as horas de almoço e ficava durante meia hora, todos os dias, em um banquinho improvisado no estúdio da Excelsior, de onde acompanhava de perto alguns dos maiores artistas da época. Entre eles, Gal Costa. A baiana que tinha sua voz no tema de abertura do Balancê foi duas vezes aos estúdios do programa. Na primeira, apenas como espectadora, já que queria ver quem eram os malucos que comandavam aquele programa que ela ouvia no rádio. Na semana seguinte, Gal foi a entrevistada a entrar na roda do Balancê.
Com encontros como este, o BAR traz importantes reflexões e coloca em contato veteranos, novos e futuros profissionais do rádio. Defendo que sejam mais freqüentes e que possam ser levados também a outros ambientes, principalmente auditórios de faculdades de comunicação e cursos de rádio.
Permitam-me, aliás, que este ouvinte do bom rádio solte a imaginação. Meu sonho é ver o próximo encontro dos nossos Bons Amigos do Rádio em um desses auditórios, tendo como abertura do happy hour a apresentação ao vivo do programa Na Geral, que, na minha opinião, é uma das melhores atrações do rádio na atualidade.

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