Radioescuta Peças Raras: Salomão Schvartzman e Jornalismo Literário

Neste boletim Radioescuta Peças Raras, o destaque é mais um momento que foge à regra e coloca uma pitada de arte e crítica em meio a uma programação jornalística. É algo que julgo que seja muito bem feito já a alguns anos pelo Arnaldo Jabor no Jornal da CBN.

Ouça o boletim completo desta quinta, dia 29 de outubro.

Mas o nosso assunto aqui é o colunista Salomão Schvartzman, que com sua voz grave e bem colocada faz comentários do cotidiano pela Band News FM. Aqui ele narra uma história em que a polícia é tomada de assalto. Acompanhe ainda o RAP do JL (Jornalismo Literário) e também uma deliciosa descrição sobre as galinhas e as raposas, texto que você confere aqui e que foi escrito por André Caramuru Aubert, que tem 47 anos, é historiador e trabalha com tecnologia.

AS GALINHAS E AS RAPOSAS: PARA VOCÊ QUE BOTA OVO COMO EU

Nós galináceos, por sabermos que galinha solta é bagunça e sujeira na certa, com poleiros imundos e pena e titica voando pra todo lado, decidimos nos organizar em forma de galinheiro, todo cercadinho e bem cuidado, de acordo com as disposições que seguem:

I. O galinheiro é das galinhas, e sua função básica é garantir a soberania do galinheiro, a liberdade, a educação e a saúde de cada um dos membros da comunidade, sejam eles galos (inclusive os de briga), sejam galinhas, sejam galinhas-d’angola, sejam frangos, sejam pintos.

II. Para assegurar que o galinheiro possa ser o lugar que se espera dele, atendendo às necessidades do conjunto das galinhas, estas escolherão, em eleições livres e democráticas, representantes entre as raposas, para tomar conta de tudo.

III. Ou seja, a função das raposas é tomar conta do galinheiro.

IV. Para garantir que as raposas façam um bom trabalho, serão eleitas outras raposas para fiscalizar as primeiras raposas. A tóca em que as raposas se reunirão para votar leis e vigiar as raposas governantes será chamada de Casa da Mãe Joana, em homenagem à heróica galinha de mesmo nome. Para que tudo funcione bem direitinho, haverá rotatividade entre as raposas, com as raposas que governam alternando sua função com as que fiscalizam, a cada quatro ou, no máximo, oito anos.

V. Às galinhas é facultada a posse de asas, mas é vedado o voo. As raposas, que nem asas têm, voarão, quando necessário, para o exercício de suas funções, com passagens subsidiadas, que poderão ser repassadas a parentes, inclusive surfistas.

VI. Para assegurar que o galinheiro viva em paz e segurança, e que as galinhas não voem, não roubem nem abusem do consumo de milho, as raposas criarão um serviço de vigilância, com câmeras fotográficas, bafômetros, cigarrômetros e radares de diversos tipos.

VII. A privacidade das galinhas é direito essencial. Dessa forma, desde já se avisa que elas podem estar sendo filmadas ou tendo suas conversas gravadas.

VIII. Para que os serviços prestados pelas raposas possam ser executados a contento, serão cobrados, das galinhas, impostos, taxas e contribuições, temporárias ou permanentes. O montante a ser pago deverá equivaler a um ovo em cada três.

IX. As galinhas que não pagarem os impostos serão promovidas a frango assado.

X. Se alguma riqueza for descoberta no subsolo do galinheiro, ela pertencerá a todas as galinhas. Para garantir que o produto da descoberta beneficie todo o galinheiro, ela será explorada com exclusividade pela Petro-galo, empresa pública administrada pelas raposas.

XI. A arte, a crítica e o livre-pensamento devem ser incentivados pelas raposas por intermédio de fundos especiais de apoio à criatividade das galinhas. Já está programada, para este ano, uma peça de teatro baseada na obra educativa do chicken mac nugget George Orwell, que mostra claramente que as galinhas só podem confiar mesmo é nas raposas.

XII. Para compensar a dívida histórica com as galinhas-d’angola, cujos antepassados foram trazidos para o galinheiro de certa forma, por assim dizer, a contragosto, as raposas determinam que haverá um sistema de cotas para estas, de forma que, de cada dez frangos assados de padaria, canjas ou yakisobas de frango, dois terão que ser preparados com aquelas galinhas.

XIII. Se acontecer, por acidente, de brilhar a estrela de uma galinha e ela ser eleita, no meio das raposas, para tomar conta do galinheiro, as raposas deverão providenciar uma cirurgia urgente para que essa galinha seja transformada em raposa. Não importa, - aliás é até bom -, que por fora ela continue a se parecer com uma galinha, pois assim ela será uma raposa ainda melhor. Além disso, a raposa que permanecer em cargos eleitos por mais de 30 anos, mesmo que esteja mais suja do que pau de galinheiro, ganhará imunidade contra qualquer acusação, pois terá, a seu favor, a história.

A propósito ainda do tema, fica nosso convite para que você visite o blog http://www.crisvnf.blogspot.com. A descrição fica a cargo da própria jornalista nas linhas que seguem: "Jornalista, estou sempre envolvida em fatos e acontecimentos. Talvez por dever de ofício, Dalva Ventura sempre persegue a síntese, a objetividade e, talvez por isso, às vezes me cansa. Para fugir destas amarras, me transmuto em Cris V, aqui neste blog ou em Priscila V, que de vez em quando arrisca uns poemas, quase todos guardados a sete chaves. Tem horas que sinto vontade de ter uma só identidade, digamos, mas estou em cada uma delas, não tem jeito. Multifacetada, confusa, dividida, atribulada e, sobretudo, muito, muito contraditória.

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