Fernando Meirelles, o cineambientalista: entrevista completa


Fernando Meirelles, clicado pelo fotógrafo Paulo Sene, durante entrevista ao podcast do canal de Cidadania do Instituto NET Claro Embratel

Em 22 de dezembro de 2017, de passagem pelo Brasil (estava na Argentina e embarcou para a Itália no início deste ano), no intervalo da pré-produção do filme “The Pope”, Fernando Meirelles gravou uma entrevista para o podcast do Instituto NET Claro Embratel (a edição com 8 minutos pode ser conferida aqui)

Para os amigos que comentaram e solicitaram mais sobre esse lado ambientalista do cineasta e diretor de campanhas publicitárias, no player abaixo, você pode conferir a conversa na íntegra.



(se o player não estiver visível, clique aqui para acessar o áudio)

Na sede de sua produtora O2 Filmes, Meirelles falou sobre as motivações que o levaram a se envolver com a direção do filme que vai mostrar a relação entre os papas Francisco e Bento XVI e terá Jonathan Pryce (Francisco) e Anthony Hopkins (Bento). “É uma conversa entre o Bento XVI e o Francisco. Começa na morte do João Paulo II, aí tem o primeiro conclave em que o Bento é eleito e depois o segundo conclave onde o Francisco é eleito e nesse período tem a relação deles que não é muito boa. Eles representam lados opostos da igreja e talvez visões opostas de mundo também: o mundo da tradição e o mundo da inovação. Eu topei fazer esse filme porque admiro muito o atual papa. Ele é uma das vozes mais interessantes que tem no mundo hoje. A gente tem esse sistema econômico só voltado para o consumo que tem acentuado a diferença entre pobres e ricos em nível mundial e esse papa que dirige a maior organização do mundo e é a única voz contra esse sistema”.
Ainda sobre a admiração por Francisco, destaca a encíclica “Laudato Si” (disponível em PDF neste endereço
), em que o papa fala sobre consumo e as ameaças que têm assolado o planeta.


Responsável pela direção de filmes como “Cidade de Deus” e “Ensaio sobre a Cegueira”, só para citar dois títulos, o cineasta tem defendido que o discurso ambiental pode ser mais atraente se for transmitido por meio de histórias e bons exemplos envolvendo o meio ambiente. A história de Meirelles contada nessa conversa pode ser um começo. Acompanhe alguns trechos do que você ouve no podcast:


Raízes
“Quando você entende o tamanho do problema e sabe que você pode ser parte dele ou da solução, você acaba mudando. Eu mudei muitas atitudes minhas, eu consumo, tenho minha pegada de carbono, mas planto árvore pra compensar, uso painel solar, meu carro é elétrico, eu fui mudando uma porção de coisa... quando eu fui entendendo que toda ação minha... ninguém come hambúrguer impunemente... eu gosto do hambúrguer, mas talvez eu não precise do hambúrguer. Dos danos ao planeta, do aquecimento que é o principal problema, 15 a 20% vêm da pecuária”.

Retorno ao ambiente da infância: as fazendas
“Pode ser o retorno, coisa de idade, de voltar à raiz. Mas tem a ver com preocupação, envolvimento com o tema e leitura. Nada tem mais importância do que o esgotamento do planeta que estamos causando... o tráfico, a corrupção, nada tem mais importância do que o esgotamento que está comprometendo a vida dos netos, não os meus, de todo mundo”.

“A lição sabemos de cor, só nos resta aprender”
“É um dado cultural, lutar contra isso é lutar contra a cultura em que estamos inseridos, nossos pais, avós... a cultura ocidental é a do crescimento, da lógica pessoal à das empresas e do país, das corporações que são maiores do que os países, vivemos para expandir, crescer, ocupar. Colou até certo tempo, só que não tem mais espaço. Nossa ocupação degrada os espaços ocupados.
Você nasce, pequeninho, sua mãe quer que você faça uma faculdade para ganhar mais, para ter mais, lutar contra isso é difícil. Se você disser pra alguém que não precisa consumir, vão te chamar de maluco. O fato é esse, a gente precisa consumir menos. E como é que vamos conscientizar alguém disso, é difícil”.  

Olímpiadas no Brasil
“O tema de preservação do planeta foi o tema central da Olimpíada. A gente pensou que todos os países, antes do Brasil, faziam uma espécie de propaganda deles mesmos... e a gente pensou em aproveitar essa plataforma para mandar um recado mais urgente que era justamente conservar o mundo”.

Uma história transformadora
“Tem alguns filmes que não sei se muda, mas são muito bem feitos sobre meio ambiente. Tem um chamado Wolf Totem, o Espírito dos Lobos, é a história de um estudante, que na Revolução Cultural, é mandado pra morar na Mongólia... é muito legal para entender o equilíbrio da natureza e como você interferir pode dar em um desastre... explica muito bem a lógica humana do consumo e como isso colapsa o mundo”. O filme está disponível com legendas em português no YouTube.

“Eu sou Amazônia”
Foi um convite do Google Earth, eles estavam lançando uma plataforma nova – Navigator – você clica e pode ver histórias. Para lançar na América Latina e no Brasil, pediram para a gente criar uma série de histórias sobre a Amazônia.
Junto com o Google, chamamos um grupo de pessoas que conhecem muito bem a situação da Amazônia, Imazon, Isa, eram 14 pessoas aqui. Ficamos uma semana das 8 da manhã às 9 da noite, acabou que viraram 26 filmes. Todas as histórias do “Eu sou Amazônia” mostram que Amazônia só faz sentido se tiver floresta, senão vira deserto... a gente fala de culinária, soluções que tribos estão encontrando de ganhar para manter a floresta em pé, uma nova pecuária em que convive a criação de boi com a floresta”. Descubra aqui sua conexão com a Amazônia

Meirelles se dedica à história mais importante de todas, a do Planeta Terra
“O que eu faço para melhorar o mundo? Não sei se eu tento melhorar o mundo, eu tento não intensificar o problema, pelo menos ser mais solução do que problema. Minha ação é que a coisa de plantar, encher a fazenda de árvore, é que isso captura carbono... tenho 30, 40 mil árvores plantadas já... está compensando todo o consumo da minha vida”.

Novos ares
Depois de ter a oportunidade de conversar com Fernando Meirelles, que foi uma das minhas principais influências para que eu seguisse na área de Comunicação, ainda por influência do grupo Olhar Eletrônico, do qual ele fez parte, espero que a mensagem deixada aqui por ele seja a semente para que novos pensamentos fiquem enraizados em todos nós.

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